domingo, 10 de maio de 2020

Juventude Transviada

Juventude Transviada (Rebel Without a Cause no original) é um clássico no sentido mais puro da palavra. Dirigido por Nicholas Ray, este é o filme definitivo que representa toda uma geração. O segundo filme do astro James Dean foi lançado pouco tempo após sua trágica morte num acidente de carro, o que impulsionou a curiosidade do povo em poder vê-lo em cena. Além de James Dean, Juventude Transviada contou com Natalie Wood (indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este papel), Sal Mineo (também indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante) e Corey Allen no elenco. O filme é um drama familiar em uma sociedade pós-guerra que ainda busca se reestruturar emocionalmente, mas também é uma história sobre amizade, sobre bullying e principalmente sobre a rebeldia de uma geração. Sim, uma rebeldia tão plena e justificada que o sem causa do título (na versão original) soa como sarcasmo. 


Na trama, os pais de Jim Stark se veem obrigados mudar novamente de cidade devido a quantidade de problemas em que o jovem rebelde se envolve. No colégio novo Jim se sente um pouco deslocado e tenta fazer amizade com alguns encrenqueiros, mas a tentativa de aproximação dele com Judy não é bem vista por Buzz, líder da gangue do colégio e namorado da jovem. Sofrendo perseguições por parte dos colegas Jim aceita participar de um racha para provar o seu valor. Uma história demasiada simples, mas com uma profundidade e força que encanta, choca, emociona e diverte gerações desde o seu lançamento no longínquo ano de 1955.


Na cena inicial somos apresentados a Jim "Jimmy" Stark (James Dean) que está perambulando embriagado pelas ruas e deita-se no chão ao lado de um brinquedo (um macaco) que encontra esquecido no parque. Ao encarar o brinquedo, que após obter sua atenção para o seu movimento, e o olhar terno de Jimmy já nos mostra nesta primeira cena que ele se sente tão abandonado quanto e carecendo da mesma atenção. Na ausência de uma fala, James Dean consegue nos cativar com seu carisma natural e desde o primeiro momento o que queremos ao vê-lo em cena é quebrar a quarta parede e lhe dar um afetuoso abraço. Mas Jimmy é levado preso por embriaguez e vadiagem, o que nos mostra uma diferença cultural da realidade de hoje. 


Na cadeia enquanto os pais dialogam para conseguir a soltura do jovem Jimmy conhece dois outros personagens centrais Judy (Natalie Wood) e Platão (Sal Mineo). Cada um tenta de um modo próprio atrair a atenção dos pais e vemos como esta ausência/distância os afeta e acaba por desencadear as consequências que levam ao clímax do filme. Sobre os pais Jimmy (Jim Backus e Ann Doran), vemos que a relação dos dois já está bastante desgastada e não há um respeito mútuo entre eles. Se a mãe é do tipo que faz o possível para humilhar o marido, o pai acaba por se mostrar vulnerável e submisso e esta situação acaba por frustrar Jimmy que em seus pais almeja ver a imagem de alguém em quem possa se espelhar e projetar uma identidade futura para si. Ele não quer ser como os pais, aquela situação não é algo que ele quer pros pais e usa a sua rebeldia para chamar-lhes a atenção. Ele até consegue, mas o resultado não é satisfatório e Jimmy acaba se vendo extremamente estressado ante a sua família. 

Ainda na cadeia fomos apresentados a Judy, onde Natalie Wood desempenha uma das melhores performances de sua carreira, e aqui ela tem uma cena que mostra como o menos é mais. Poderiam ter usado um flashback ou mesmo um diálogo didático para expor sua história e motivações, mas o roteiro opta brilhantemente por um monólogo onde Judy explica como o pai a criticou, chamando-a de vagabunda e como violentamente lhe tirou a maquiagem do rosto. Ela é uma jovem que apenas busca aceitação. Judy, assim como Jimmy, só quer receber o carinho de sua família, em especial de seu pai que a considera já velha para ser afetuoso e os seus atos são consequentemente um reflexo deste seu anseio por este amor paterno funcionando como uma forma velada do Freudiano Complexo de Édipo.  


Fechando o trio de protagonistas do filme temos Sal Mineo que interpreta o tímido e frágil Platão, um rapaz que não tem amigos até se aproximar de Jim em quem ele tem uma visão fraternal que beira o paternal. Vide o diálogo entre Platão e Judy onde ele lhe diz que Jim o levará para pescar e fala, com grande admiração, o quanto são amigos, um claro reflexo de sua solidão e carência. Dos três, é Platão quem mais sofre com ausência de seus pais. Ele que tinha sido preso por atirar com uma pistola em filhotes de cachorro, uma atitude tão cruel mas que não nos faz odiá-lo mas apenas sentir pena do jovem que já está tão psicologicamente abalado. Na sua relação com Jim, testemunhamos o seu desejo de ser parte de algo que ele nunca acreditou que teve até então, uma família. Seu único elo era através da empregada que se importa com ele, mas não era capaz de suprir a necessidade que tinha de seus pais ausentes. 

A relação entre os três é o que move o plot principal do filme. Enquanto um não quer ser um covarde perante a sociedade, outro busca aceitação e outro busca um lugar ao qual pertence. Como chamar tal rebeldia de sem causa? Este não é qualquer filme e sua força está na identificação com o público, independente da faixa etária. Juventude Transviada é um filme atemporal e suas críticas a sociedade são tão válidas hoje quanto eram a sessenta anos atrás. A direção acertada de Nicholas Ray. O simbolismo presente nas cenas, a exemplo aquela onde Jim encosta em seu rosto a garrafa de leite e seu rosto amargo reflete o anseio do calor materno ou mesmo a cena em que antes de sair de casa ele destrói um quadro de família mostrando sua revolta com uma vida de aparência e tantas outras cenas emblemáticas, são postas de uma forma tão sutil que podem passar despercebidas mas que ao parar para analisarmos podemos enxergar que nada está ali por acaso. 


O clímax do filme é a chamada Chicken Run, uma corrida de carros em direção a um penhasco onde o primeiro a saltar para fora é declarado um covarde. Nos minutos que antecedem a sequência Ray nos mostra o respeito que há de Buzz (Corey Allen) para com Jim e entendemos que seus motivos são muito mais uma imposição da imagem que ele tem de demonstrar do que qualquer outra coisa. O trágico desfecho da corrida acaba por alterar para sempre as vidas daqueles jovens que viviam tão rapidamente e as consequências acabam por culminar num desfecho tão trágico quanto. Mas não vou me prolongar aqui, pois não quero entregar aqui nada mais. Já falei o bastante. Devo dizer, entretanto, que o filme não é perfeito e tem algumas pequenas coisas no roteiro que podem incomodar, como o repentino amor entre Jim e Judy que surge do nada e parece existir apenas para agradar os casais que estavam vendo o filme nos drive-ins onde foi exibido na época. Mas não é nada que prejudique o desenvolvimento ou mesmo o andamento do longa. 


O que posso dizer para concluir é ressaltar a atemporalidade desta obra-prima do cinema e lamentar o quão breve foi a vida de seu protagonista. Juventude Transviada é um filme icônico, revolucionário e inspirador. É um clássico irretocável que merece ser visto e revisto todas as vezes quanto forem possíveis. É um filme que entra fácil no meu top 10 de filmes favoritos da vida. Tenho um carinho enorme por ele. E só para constar, não se trata apenas do filme rebelde do imortal James Dean, mas o filme imortal do rebelde James Dean. Se não o viu ainda, então veja. Por favor, veja mesmo e depois, se der, me diz o que achou. Garanto que não vai se arrepender.



Godzilla


Godzilla, o icônico kaiju retornou as telas de cinema em 2014 numa nova adaptação americana que prometia ser ao mesmo tempo um reboot quanto o ponta pé para um universo compartilhado de monstros gigantes que, posteriormente, vai colocar o Rei dos Monstros num embate contra o também icônico King Kong. Mas não vamos por a carroça na frente dos bois. Após revisitar este filme vamos ver o que achei dele e o que posso analisar sem tantos spoilers. Nos créditos iniciais do longa somos apresentados a uma série de ataques de bomba nos anos 50 na tentativa de destruir um monstro gigante oculto pelo mar, no que foi disfarçado como sendo os testes da bomba de hidrogênio. Mas a história tem inicio, de fato, no ano de 1999 onde um grupo de cientistas, entre eles o personagem de Ken Watanabe (de O Último Samurai, Batman Begins e Memórias de uma Gueixa), descobrem nas Filipinas os restos de uma grande criatura fossilizada onde estava preservado um grande ovo logo após um grande terremoto abrir uma cratera numa obra. É muita coisa grande, né? Em outro plot é mostrado Joe Brody (Brian Cranston, de Drive, Trumbo e o icônico Walter White do seriado Breaking Bad) que em seu aniversário trabalha na usina nuclear Janjira, no Japão, com sua esposa Sandra (Juliette Binoche de A Insustentável Leveza do Ser, A Liberdade é AzulO Paciente Inglês) quando tenta interromper as atividades devido a ameaça de um acidente produzido pela mesma coisa que causou o terremoto filipino. No acidente Sandra morre e a cidade é evacuada e abandonada por causa da radiação. Apesar de breve a performance de Juliette Binoche é excelente e a química de sua personagem com o personagem de Brian Cranston proporcionam um dos melhores momentos do filme. Daí a história pula mais quinze anos e chegamos ao ano de 2014 onde somos apresentados ao tenente da Marinha Ford Brody, interpretado pelo inexpressivo Aaron Taylor-Johnson (de Kick-Ass: Quebrando Tudo), filho de Joe que após uma incursão militar volta pra casa, em São Francisco, mas é forçado a viajar ao Japão devido à prisão de seu pai. Joe segue obcecado pelo acidente que o tornou viúvo e acaba por convencer o filho, com o qual não tem muito contato, a explorar a cidade abandonada para descobrir que o acidente serviu para encobrir algo muito, muito maior. É só quando surge um monstro alado gigante que o personagem título desperta para “trazer o equilíbrio necessário”.

É assim que finalmente, com quase uma hora de filme, surge o poderoso Godzilla. Uma história carregada de dramas e conspirações, mas que a partir do surgimento do monstro praticamente abandona o que foi construído no primeiro ato para acompanhar o tenente Ford em sua tentativa de voltar pra casa pra reencontrar sua esposa e filho. Reitero aqui a inexpressividade do protagonista. Taylor-Johnson aqui não tem carisma e quando o roteiro tenta de forma muito rasa mostrar suas emoções as cenas simplesmente não funcionam. Nas cenas ao lado de Cranston, que carrega a melhor atuação do filme, é visível a falta do seu talento. Uma pena o eterno Walter White não ter tanto tempo em cena como gostaria. Já Ken Watanabe, interprete do cientista John, é subaproveitado pelo roteiro e apesar de estar presente do começo ao fim do longa o seu personagem é praticamente inútil pra trama e se limita a fazer a mesma expressão toda vez que ta em cena, podendo até ser retirado do filme sem afetar em nada o seu desenvolvimento. Eu queria inclusive ter visto alguma interação entre Watanabe e Cranston mas o roteiro do filme me privou disso. No núcleo secundário Elizabeth Olsen (a Feiticeira Escarlate de Vingadores: A Era de Ultron, Guerra Infinita e Ultimato) interpreta Elle Brody, a esposa de Ford, que também tem pouco o que fazer em cena e serve apenas para ser a motivação do protagonista em voltar pra casa.

Como era de se esperar, a parte técnica do filme é predominantemente perfeita. A exceção é a sequência em que Ford e Joe exploram a cidade abandonada no primeiro ato onde tudo parece extremamente artificial. Sério mesmo, a direção de arte, ambientação e tudo o mais que compõe a mise-en-scène é tão artificial e soa tão falso que não parece parte de um blockbuster milionário mas sim aqueles telefilmes B feitos pro canal SyFy. Porém no resto do filme a direção de arte está impecável, sobretudo nas cenas que mostram o resultado da passagem e confronto dos monstros por diversos lugares, como Havaí e Las Vegas. Os efeitos especiais são bastante realistas. O design dos monstros é bastante fiel as produções do gênero feitas no Japão e respeitando suas origens, diferente da adaptação americana dos anos 90 onde o Godzilla mais parecia uma lagartixa gigante. Aqui você sente o peso do Godzilla quando ele se movimenta. A montagem e a mixagem do som são o ponto forte do filme. É impossível não se arrepiar, ou até mesmo se emocionar, quando o Godzilla nos brinda com seu potente grito, o que é favorecido ainda mais pela linda trilha composta por Alexandre Desplat. A fotografia funciona bem tanto nas cenas diurnas quanto nas noturnas, e apesar da forma como o diretor optou por filmar os monstros,  de forma tipo documental ocultando a visão mais ampla deles durante a maior parte da projeção, você consegue acompanhar de forma orgânica a ação e compreender o que está acontecendo.

Agora chegou a parte de analisar o ponto mais problemático do filme. O roteiro. O roteiro de Max Borenstein é algo que devia ter sido revisado por alguém mais experiente. Não sei qual foi a intenção dele, mas o que o trailer e o material de divulgação me vendeu foi gato por lebre. Cheio de personagens mal trabalhados que entram, saem ou simplesmente morrem sem qualquer relevância. E quando morrem é que é pior, não nos importamos e da mesma forma ninguém no filme se importa. É impossível ter qualquer empatia por qualquer personagem, mesmo quando a história tenta nos vender o bom mocismo, dever cívico idealizado e patriotismo escancarado de Ford. Afinal não foi só eu quem achou piegas, desnecessário e logo descartado garotinho que se separou dos pais, né? Mesmo o personagem-título você não consegue se preocupar com ele, temer por ele. Fica evidente que além do roteiro não desenvolver nem os seus protagonistas ainda apresenta uma trama cheia de furos e decisões que não fazem sentido algum. Tipo, você sabe que há monstros colossais indo em direção a cidade onde sua esposa e filho estão mas você diz para ela ficar lá e aguardar a sua chegada no dia seguinte para só então seguir para um local seguro? Ou então você sabendo que "o monstro do mal" precisa se alimentar de radiação para poder acasalar e leva na direção dele uma bomba radioativa para atacar a criatura? Pois é, acontecem muitas coisas desse tipo durante as duas horas de filme. Se quem assiste tiver muita suspensão de descrença e não se incomodar das escolhas burras apresentadas é possível que se divirta o suficiente. Caso contrário o espectador vai ter muita raiva do filme. Eu, confesso, já estive em ambos os lados.

A direção de Gareth Edwards (do filme Monstros) é bastante competente nas cenas de ação. As coreografias são bem desenvolvidas e são coerentes com o que o filme se dispõe e com a fisionomia das criaturas. Como eu disse antes, você realmente sente o peso que eles tem na movimentação. Os enquadramentos usados são bastante interessantes e às vezes, talvez numa forma de homenagem, lembram outros filmes de monstro como Tubarão e Cloverfield, sendo que nesses dois casos isso de ocultar mais o monstro do que o mostrar fazia mais sentido narrativamente falando. Ainda assim isso não me incomodou.  Mas se Edwards é competente neste tipo de cena ele deixa a desejar no quesito direção de atores. A maioria do elenco em cena parece pouco a vontade na encarnação dos seus papéis. Fico pensando se Binoche, Cranston e Watanabe fossem os protagonistas ao invés de Aaron Taylor-Johnson fossem os protagonistas se eles conseguiriam segurar a trama com mais eficiência. Nunca saberemos. Mas que foi um desperdício não usá-los mais, isso foi. No geral é um filme bem mediano, mas cujo final nos deixa com a curiosidade pelos filmes seguintes da franquia. Adianto aqui que achei o Kong: A Ilha da Caveira bem melhor e que ainda não vi o Godzilla 2: Rei dos Monstros, coisa que devo fazer ainda nesse período de quarentena, mas estou empolgado/confiante no vindouro Godzilla Vs Kong. Vou me arrepender? Veremos quando isso tudo passar.

Capitão América: Guerra Civil

Passaram já uns bons anos desde que assisti a este filme pela primeira vez lá em 2016 e me sinto mais a vontade agora para revisitar criticamente esta obra. Decidi aproveitar que estou em isolamento social devido a pandemia do Covid-19 e não tenho outra coisa com que me ocupar no momento para retomar as atividades como aspirante a crítico. Eu já tinha vontade de fazer isso mesmo. Pois bem, prosseguirei com a minha análise. Eis que Capitão América: Guerra Civil, o décimo-terceiro filme da Marvel Studios e de seu Universo Cinematográfico, é empolgante, divertido e tudo o mais que se espera de um filme da Casa das Ideias. Livremente inspirado na saga Guerra Civil, o filme é tanto uma continuação de Vingadores: Era de Ultron como de Capitão América: O Soldado Invernal e me atrevo a dizer que também poderia ser facilmente o Homem de Ferro 4, visto a importância e o desempenho de Robert Downey Jr e seu Tony Stark na trama deste.

 A história é bem simples, após uma missão dos Vingadores na Nigéria onde ocorrem várias baixas civis os governos do mundo, através da ONU, decidem que a super-equipe liderada por Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans) precisa ser regulamentada por uma série de normas, os Acordos de Sokovia, e que caso não aceitem a imposição sofrerã as consequências cabíveis. O Capitão se posiciona contra enquanto que Tony Stark/Homem de Ferro se posiciona a favor por se sentir culpado pelas vidas que não pôde salvar. Não bastasse o tratado dividir os Vingadores, o passado de Steve volta para atormenta-lo mais uma vez quando Bucky Barnes/Soldado Invernal passa a ser caçado por conta de um ataque terrorista. Em terceiro plano e não menos importante por isso o Coronel (?!) Helmut Zemo (Daniel Brühl) está decidido a obter uma importante informação para executar um plano que pode destruir de uma vez os Heróis Mais Poderosos da Terra.

Muita coisa acontece ao longo do filme, mas os irmãos Joe e Anthony Russo conseguem manter tudo bem amarrado e equilibrado. Os Irmãos Russo, que já haviam dirigido o filme anterior do Sentinela da Liberdade, se provam um grande achado da Marvel. Eles sabem dosar bem as cenas ação, humor e drama. As piadas são bastante fluídas e todas funcionam. Apesar de serem os alívios do filme, não tiram o peso das cenas. A ação não decepciona e alterna boas sequências em planos fechados e abertos, sempre respeitando a geografia da cena. Vide por exemplo à sequência na escadaria ou mesmo a do aeroporto. As cenas de luta são extremamente bem coreografadas e funcionam narrativamente e não apenas como distração. Se alguém tinha dúvida sobre o Pantera Negra, ela não existe mais. O personagem protagoniza algumas das melhores lutas do filme. O mais incrível foi ver que apesar de ter tantos personagens em tela existe uma boa harmonia em relação a suas participações e motivações. Os poderes e habilidades de todos são muito bem utilizados. Há uma cena envolvendo o Homem-Formiga, o Homem-Aranha e uma referência a O Império Contra-Ataca que me fez dar um sorriso de orelha a orelha tamanha a satisfação. O roteiro justifica não apenas as ações, mas as consequências. Apresenta personagens novos de forma dinâmica e não perde tempo revisitando informações já disponibilizadas em outros filmes. Com isso o filme ficou dinâmico e apesar da duração o tempo não é sentido, jamais sendo cansativo ou monótono. O roteiro acerta ainda em não tomar partido na “guerra” de modo que você enxerga os pontos positivos e negativos em ambos os lados. Não existe lado certo e errado, é tudo uma questão de ponto de vista. Apesar disso, nem tudo é perfeito e o filme tem alguns efeitos que podiam ser melhor finalizados. Algumas decisões de roteiro são questionáveis, nada que te tire do filme, mas se for analisar com calma se percebe que se fossem de outro modo teriam ficado mais críveis. Não entrarei aqui em detalhes, pois teria de dar uns bons spoilers do filme. E apesar de tanto tempo é provável que muita gente ainda não o tenha assistido. A exibição no formato 3D, quando vi no cinema, era totalmente desnecessário e mais uma vez serviu apenas para encarecer o preço ingresso e tornar as cenas mais escuras, apesar de a fotografia não ser tão afetada por ele já que quase em sua totalidade as cenas tem tons claros.

O elenco está bem a vontade em seus papéis. Todos tem algum destaque que fazem suas participações serem bem-vindas a produção. Chris Evans, que nunca foi um ator excelente, está perfeito aqui como a personificação de Steve Rogers. O ator realmente abraçou o personagem e está com uma performance mais madura. Ele realmente convence como Capitão América e é difícil imaginar, ainda que no futuro, um outro ator para interpretar o personagem . Mas se tem alguém que convence é Downey Jr. Ele prova neste filme que é ainda um bom ator e sua atuação é a melhor que ele já fez vivendo o personagem. Ele transmite toda a dor, o peso e a angústia que vestir a armadura lhe trouxe. Chadwick Boseman e Tom Holland, que debutam como T’Challa/Pantera Negra e Peter Parker/Homem-Aranha, foram corretamente escalados e convencem como seus respectivos personagens nos deixando com vontade de ver mais deles. O Zemo de Brühl é um bom vilão e suas motivações são bem justificadas. Sua atuação é excelente e teria tudo para ser um vilão inesquecível, não fosse o nome que carrega. Melhor seria se o personagem, tal qual o agente Phil Coulson (Clark Greg), tivesse sido criado um novo personagem exclusivamente para o filme. A descaracterização do personagem talvez seja justificada no futuro, afinal uma frase do personagem me faz acreditar que seu objetivo final é ainda maior. Vale lembrar que o personagem já foi oficializado como vilão da minissérie Falcão e o Soldado Invernal que está sendo desenvolvida para a plataforma de streaming Disney+. Mas como um filme tem de se justificar por si e não por possíveis coisas que talvez possam vir a acontecer numa minissérie cinco anos depois, sendo que nem mesmo existia a possibilidade de produção da mesma na época já o fez não ser o suficiente, se é que me entendem, tirando em parte o peso que poderia ter sido alcançado. O já tradicional cameo do saudoso Stan Lee é o que se espera, rápido e engraçadinho.


O filme é bem amarrado e possui em seu arco um começo, meio e fim satisfatório. O filme terminou com um cliffhanger para produções futuras do MCU (entenda como a centelha para os personagens em Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato) e mais duas cenas pós-créditos que empolgam, sobretudo a primeira. Apesar de ser um filme muito bom, não é o melhor da Marvel Studios. É superior, por exemplo, a Vingadores: Era de Ultron, mas perde em qualidade para Capitão América: O Soldado Invernal (que mantinha até bem pouco tempo atrás o título de ser o melhor da MCU na minha humilde opinião). Ele está no nível primeiro Vingadores e acima do primeiro Homem de Ferro.